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08-11-2022
Viver prepara novos projetos após acordo com FI-FGTS
Ricardo Piccinini, presidente da incorporadora, conta que foram três anos de negociação até conseguir fechar a resolução para a maior dívida da companhia — Foto: Claudio Belli/Valor[/caption]
A incorporadora Viver se prepara para uma nova fase, com foco no que chama de “ativos alternativos”. Na prática significa assumir obras paradas e transformar projetos problemáticos em ativos rentáveis. A empresa anunciou na segunda-feira (31) uma solução para sua maior dívida, o que vai reduzir seu endividamento total em 84%.
Os R$ 210,6 milhões do débito, composto por debêntures do FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço), serão convertidos em ações da companhia, adquiridas pelo fundo FI-FGTS (ligado à Caixa), por R$ 19,80 cada. O fundo passará a deter cerca de 5% da Viver. A ação da incorporadora terminou a terça-feira (1) a R$ 0,63.
Acordo deve reduzir dívida total da companhia em 84% e deixar seu patrimônio líquido positivo
Segundo Arthur Marin, diretor de operações da companhia, como o FGTS não pode ser dono de empresas, terá um agente comissário que vai realizar a venda das ações.
A conversão das dívidas da Viver por ações estava prevista no plano de recuperação judicial da incorporadora, iniciado em 2016, quando a companhia tinha uma dívida de R$ 1,5 bilhão. O processo foi encerrado em agosto do ano passado. Após a operação com o FGTS, terrenos e carteiras de recebíveis, que eram garantia da dívida, serão liberados.
Para fechar o acordo com o FGTS, a Viver também deverá pagar R$ 14,1 milhões à vista, para “quitar o crédito extraconcursal da dívida e ressarcir despesas advocatícias, cartorárias, emolumentos e despesas judiciais em favor da Caixa”, como citado no fato relevante divulgado na segunda-feira.
“O FGTS foi contemplado da mesma forma que outros credores, foi a forma que encontramos para reestruturar nossas obrigações”, explica Marin. Segundo Ricardo Piccinini, presidente da companhia, foram três anos de negociação até conseguir fechar a resolução da dívida.
A Viver foi fundada há 30 anos, como Inpar, e trocou de nome em 2011. Ao pedir a recuperação judicial, tinha cinco obras inacabadas.
Segundo o presidente, três foram finalizadas no período, uma foi vendida e a última, em Goiânia, está em estágio final. Trata-se de um empreendimento de quatro torres, das quais duas já haviam sido entregues e restavam outras duas. A terceira torre acabou de receber o habite-se e será entregue, e a última deve receber o documento em março de 2023, encerrando as obras do legado da companhia.
“Só vou conseguir ser coerente para o mercado e ganhar credibilidade se resolver o passado”, diz o executivo, que está no cargo desde 2019 e tem passagem pela PDG, incorporadora que também entrou e saiu de recuperação judicial.
A experiência com o término das obras paradas foi transformada em atividade comercial para a Viver. Em 2020, a companhia criou a Solv, negócio especializado em “ativos alternativos”. “Pegar uma obra parada, com problemas contenciosos, e sentar, negociar e bolar um novo plano e projeto é um ativo”, diz Piccinini.
Como conta, o futuro do negócio é ser mais Solv do que Viver, atuar mais com construções já existentes do que levantar prédios do zero.
A Viver tem parceria com a incorporadora Rev3 em três projetos novos na Zona Leste de São Paulo, e outros em andamento com a Solv, como um prédio na Vila Mariana, da construtora Atlântica, com obra interrompida e que foi comprado em leilão. Também estão em andamento pela Solv obras em Diadema (SP), São Roque (SP), e no bairro paulistano da Vila Mascote.
A Solv pode comprar e terminar obras paradas, que é onde a Viver enxerga maior valor, mas também adquirir estoque pronto de planos empresários inadimplentes ou imóveis para retrofit.
Em maio, a Viver anunciou que o fundo BPS vai fazer aporte de R$ 100 milhões na companhia, via debêntures conversíveis. Segundo Piccinini, o recurso será usado para comprar novos projetos para a divisão de “ativos alternativos”.
Para ele, o investimento, somado ao acordo com o FGTS, é algo “holístico” para a companhia. “Você vai construindo, não sabe quando vai dar certo, e parece que dá tudo certo ao mesmo tempo.”
A expectativa é que o acordo torne a Viver uma empresa com patrimônio líquido positivo, mas o efeito contábil deve aparecer somente no balanço do primeiro trimestre, afirma Marin. Ainda é preciso emitir as ações e aguardar a apropriação do FGTS. “Uma empresa de ‘real estate’ precisa ter patrimônio positivo. Quem não tem ou está em dificuldade ou passou por problemas, e nós vamos sair desse grupo”, afirma o presidente.
O FGTS foi procurado, por meio da assessoria da Caixa, mas informou que, “em respeito ao sigilo bancário, não comenta detalhes sobre estratégias negociais”.
Marin destaca que as debêntures do FGTS foram oferecidas para diversas incorporadoras no passado, no Minha Casa, Minha Vida, e algumas também tiveram problemas financeiros. “Isso que está acontecendo aqui vai ser pioneiro, virão outras empresas que vão usar como base essa negociação”, diz.
Fonte: Valor Econômico